Violência nas escolas: Sinprosasco aponta problemas e números impressionantes

Violência nas escolas: Sinprosasco aponta problemas e números impressionantes

Uma Escola Estadual em Carapicuíba, na Grande São Paulo, ficou “famosa” recentemente ao protagonizar cena de violência e desrespeito cometida por alunos entre 12 e 16 anos contra uma professora de Português e Inglês. Tudo foi gravado por um celular e viralizou na internet.

No dia 30 de Maio, os alunos da Escola Estadual Maria de Lourdes Teixeira arremessaram livros contra a professora, jogaram carteiras na sala, vandalizaram o espaço de aula e gravaram o “show de horror” com um celular.

Alunos arremessaram livros e carteiras em professora — Foto: Reprodução/TV Globo

Essa situação não é incomum, infelizmente. A diferença que se observa é que neste caso, a grande mídia teve acesso e o assunto ganhou repercussão e exigiu providências de órgãos competentes. Além disso, os alunos foram identificados e encaminhados para “averiguações”. As famílias foram envolvidas e a sociedade novamente voltou a falar do tema “violência”.

O site UOL publicou no dia 18 de Maio deste ano matéria que fez um “raio-x da violência nas escolas”. O texto propõe uma reflexão sobre o cotidiano escolar, uma vez que os números apresentados chamam muito atenção: em média 117 crimes registrados por dia em escolas.

A partir desta reportagem do UOL e do exemplo da escola de Carapicuíba, o Sinprosasco julga importante analisar e pontuar algumas situações, visto que o tema “violência nas escolas” não é incomum nos e-mails de dúvidas que os professores encaminham pelo nosso site ou mensagem nos grupos do WhatsApp. Como resposta, a orientação do sindicato é pedindo que o professor marque atendimento presencial para melhor orientação e apoio da diretoria e do setor jurídico.

A reportagem explica a metodologia para chegar ao número médio (117 crimes) e mostra que isso somente foi possível graças a Lei de Acesso à Informação (LAI). Aqui, ressaltamos a importância da LAI, uma vez que os órgãos públicos não podem barrar o acesso. Garimpar esses dados e interpretá-los pode causar um mal-estar aos próprios órgãos públicos, já que podem ser questionados sobre a efetiva atuação deles no processo de combate à violência. O que se vê é a ineficiência de políticas de combate à violência e suas diretrizes em cada governo.

Assim, devemos ficar atentos para que as tentativas de alteração ou mudança da lei sejam impedidas. Da maneira em que se encontra, ela possibilita uma leitura da triste realidade em que as escolas estão. Estas são em escala menor a representação da nossa sociedade. Assim, em vez do Estado combater as mazelas que os números representam é mais fácil alterar a lei para manter os números escondidos e as mazelas inexpressivas. Embora sejam números, e por mais que nos tragam um panorama da atualidade, eles são calculados por alguém, e podem camuflar situações mais desagradáveis.

No decorrer do texto, o jornalista Luís Adorno do UOL explica a metodologia que seguiu para chegara a tais números. Levantou os dados junto à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) num total de 225.522 boletins de ocorrência (BOs), no período entre janeiro de 2014 e março deste ano para um raio-x da violência nas escolas.

As principais ocorrências são ameaças, lesão corporal, injúria, furto e dano e os locais são escolas públicas e privadas, cursinhos, cursos de idiomas e faculdades, onde o professor está diretamente exposto.

A matemática é simples para chegar ao número de 117 crimes. Dividiu-se o número de boletins de ocorrências pelo total de dias do período pesquisado. Daí o alarmante número… alarmante? Pois bem, esse número pode ser ainda mais alarmante e despertar em cada um nós a preocupação em ser professor, no exercício da prática docente, com grande risco a sofrer algum tipo de violência.

Como o texto partiu de números para demostrar a violência, vamos tecer algumas considerações que podem ajudar o autor do trabalho, e por tabela nós, a repensá-los e ao mesmo tempo reconsiderar a gravidade da situação, já que na descrição da metodologia para chegar aos números não ficou claro se o referido autor considerou algumas especificidades sobre o funcionamento das escolas, e considerou o período em que temos alunos frequentes em seu espaço.

Primeiro:

Lembrar que dividir o número total pelo número de dias total dos anos, sem descontar os domingos, já se identifica ao menos 260 dias a menos para considerar como divisor. Se considerarmos os sábados, este número dobra. Vale ainda ressaltar o número de 13 feriados em média ao ano, 2 municipais e 1 estadual, sem contar as pontes ou emendas. Assim, temos pelo menos 75 dias a ser descontado no divisor. Para facilitar esta conta basta lembrar da legislação que aponta que as escolas têm seu calendário de 200 dias letivos.

Pronto!

Basta dividir os 225.522 boletins de ocorrência pelos 1000 dias letivos (5 anos), que efetivamente a escola esta em pleno funcionamento, para chegarmos a 225,5 crimes por dia. E ainda se considerarmos que das 24 horas do dia as escolas funcionam em média das 07h às 23h (portanto 18 horas), teremos 12,5 crimes por hora, um a cada 5 minutos. Desesperador, não?

É um número que certamente nos deixa muito preocupados, mesmo em se tratando de uma releitura de média e sabendo que sofre variações conforme a região do estado de São Paulo, ou mesmo por município. Por se tratar de município, Osasco aparece em 9º lugar no ranking, com 2713 casos registrados no mesmo período.

Enquanto na rede pública de ensino a lei garante ao servidor proteção e direito para denunciar o agressor, uma vez desacatado e desrespeitado em sua função, na rede particular de ensino muitas vezes impera o silencio do setor administrativo (mantenedores, diretores e coordenadores), em tentar resolver ou amenizar o problema internamente na escola, para que o agressor e o agredido não serem registrados em boletim de ocorrência.

As denúncias ou casos de violência que chegam ao SINPROSASCO são poucos, mas prontamente buscamos orientar o professor acionando o departamento jurídico, que é gratuito para os associados. Mas sabemos que efetivamente a triste realidade da violência está em todos os cantos e reflete dentro das unidades escolares da rede particular.

Orientar, esclarecer e, conforme a situação, pedir encaminhamento com abertura de BOs é nossa papel, mesmo sabendo que na rede particular muitos professores e professoras não denunciam ou buscam ajuda com medo de represálias verbais, comportamentais ou perda do emprego.

O que percebemos é que as escolas particulares tentam preservar sua imagem, tentando evitar ao máximo que denúncias e atos de violência contra professores cheguem ao sindicato ou à polícia. Elas não querem associar seu nome ou imagem ao marketing negativo e por isso, o quadro da violência pode estar ainda longe de ter um final feliz.

Texto publicado no jornal Portal Região Oeste. Para conferir, clique aqui.

Para conferir a matéria do Uol, clique aqui.

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